A Lenda do Pássaro de Fogo: Uma história de Amor Capixaba

by - março 19, 2019





Oi amigos queridos! Hoje conhecerão uma das mais lindas lendas capixabas. Trata-se de uma história de amor de dois jovens índios que moraram em terras capixabas e que deu origem a duas enormes montanhas: Morro do Mestre Álvaro, na Serra e o Monte Moxuara, em Cariacica, ambos no Estado do Espírito Santo. É A LENDA DO PÁSSARO DE FOGO! Você se encantará com essa forte e também sensível história do folclore genuinamente capixaba...


Serra e Cariacica são cúmplices numa história de amor. As duas cidades, segundo conta a lenda, relatada entre outros historiadores  como a Maria Stela de Novaes, estão ligadas para sempre pela força de um sentimento que une até hoje o índio Guaraci (Tribo Temiminó) e a índia Jaciara (Tribo dos Botocudos). Guaraci, em Tupi significa Sol, Verão. Jaciara significa Tempos de Luar, Noites com raios de Lua. Isso é tão lindo não é? Exatamente como o encontro impossível da lua e do sol...Vocês já assistiram o filme o Feitiço de Áquila? Essa lenda tem algumas semelhanças, mas é muito mais bonita!


Pertencentes a duas tribos inimigas - Temiminós e Botocudos - o jovem casal foi impedido de viver a sua história de amor. Comovido com a paixão dos dois índios, o Deus Tupã transformou-os em duas montanhas. O índio ficou sendo o Mestre Álvaro, na Serra e a índia, o monte Moxuara, em Cariacica. Eu editei um vídeo mostrando a transformação do casal em montanha e te digo que é emocionante! Você assistirá no fina,l pois antes precisa conhecer detalhes desta linda história...


A montanha de Mochuara (Moxuara)


A montanha do Moxuara localiza-se em Cariacica e mede 724 metros de altitude e é a segunda maior montanha da região da Grande Vitória. Na língua dos índios que habitavam o local, o nome quer dizer pedra irmã, mas para os Corsários (Piratas) franceses que aportaram na baía de Vitória no século XVI e que avistaram a montanha com uma neblina que a encobria, lembraram de um imenso pano branco, daí a expressão mouchoir, que quer dizer lenço e se pronuncia “muchuá”. Em razão da origem francesa da palavra, o certo é escrever MOCHUARA com CH e não Moxuara com a letra X. Mas todos escrevem com X e eu também escreverei..rsrs  O X deriva da língua indígena e  está contido na palavra "capixaba". Por isso nada mais apropriado do que adotar o X.

 O Moxuara possui biodiversidade valiosa e é habitat de espécies ameaçadas, como o araçá do mato, pau d’alho, cobi da serra, cobi da pedra, jeriquitim e jeriquitibá. A fauna do Mochuara é composta pôr beija-flores, pica-paus, lagartos e outros bichos.

Tanto Serra e Cariacica são cidades limítrofes e fazem parte da Grande Vitória, Capital do Estado do Espírito Santo. A imponência do Moxuara se destaca ao longe. Ao lado do Mestre Álvaro, na Serra, o Moxuara, em Cariacica, é o símbolo do município, como o Convento da Penha é de Vila Velha. A imponência do monte, serviu de referência para os viajantes e aventureiros que, nos primeiros séculos do Brasil, percorriam os sertões do Espírito Santo em busca de novas terras e riquezas minerais.


Morro do Moxuara em Cariacica-ES


Do monte descia o rio Carijacica, na língua tupi, chegada do homem branco que mais tarde deu o nome ao município, quando foi suprimida a letra J. As nascentes localizadas no Moxuara deságuam nos rios Formate e Bubu. A “Estância Vale do Moxuara” pertence à família Rodrigues de Freitas há mais de duzentos anos,  sendo o atual proprietário, o Sr. Wilson Freitas Filho que faz parte da quarta geração da família que no início era a proprietária da grande propriedade denominada “Roças Velhas”. O Parque Natural Municipal Monte Mochuara foi tombado como patrimônio histórico-paisagístico em 1992. O Vale do Mochuara está localizado a 17 quilômetros de Vitória, em Roças Velhas, Cariacica.


A montanha de Mestre Álvaro



O Mestre Álvaro é considerado uma das maiores elevações litorâneas (planalto) da costa brasileira e abriga uma das últimas áreas de Mata Atlântica de altitude do Espírito Santo. É um maciço costeiro que possui formato semicircular em planta, estruturado em um corpo de rocha intrusiva (plutônica) granítica com cerca de 833 metros de altitude. A montanha é um maciço granítico que, devido à sua altura e posição, tem servido à navegação marítima há séculos. Ele é citado em documentos cartográficos do século XVI. Possui um bosque rico em fauna e flora nativas e algumas cavernas. Tem um post inteirinho sobre como escalar o Mestre Álvaro.  É só clicar AQUI!


Morro do Mestre Álvaro, Serra, ES  


Segundo alguns documentos antigos, o nome Mestre Álvaro é uma homenagem do Padre Jesuíta Braz Lourenço (Fundador da Serra) ao Capitão e Comandante mestre de Navio de nome Álvaro da Costa, filho do segundo Governador Geral do Brasil, Dom Duarte da Costa. Mas a lenda fala de outras histórias como a de um carpinteiro que trabalhava perto da montana chamada Álvaro... e por aí vai...


O Mestre Álvaro é um maciço "Gnássico", e sua magnitude é histórica. Nos primeiros documentos cartográficos do século XVII, pode-se verificar a indicação do acidente geográfico, Mestre Álvaro, assinalado como ponto de referência para a navegação marítima. Dom Pedro II, Imperador do Brasil, em sua visita ao Espírito Santo, anotou em seu diário: "O Monte Mestre Álvaro, com tempo limpo e claro, pode ser visto até a 60 milhas do mar".

O viajante estrangeiro Auguste Saint Hilaire, quando visitou as terras do Espírito Santo em 1816, passando pela Serra, em direção ao Rio Doce, desejou conhecer a flora da região, chegando a subir o Mestre Álvaro onde analisou e pesquisou as árvores e plantas da região, coletando muitos dados, tendo escrito: "A mata que cobre a Serra do Mestre Álvaro representa ainda um valioso acervo de espécies aproveitadas na agricultura e na flora medicinal".

Nos primórdios da colonização do Espírito Santo, o Mestre Álvaro atraiu os colonizadores que esperavam ali encontrar ouro, sendo estimulados pelo Donatário Vasco Fernandes Coutinho.

 Donatário Vasco Fernandes Coutinho. 

Foram conseguidas pequenas quantidades de ouro de aluvião e outras pedrarias. Historicamente, há registros de retirada de ouro do Mestre Álvaro em 1598, feitas por Dom Francisco de Souza.

O Mestre Álvaro tornou-se  reserva Biológica. Situada no distrito de Pitanga, possui 2.461 ha, com altitude variando entre 100 a 833m. É de grande valor para estudos, por ser um dos últimos remanescentes da Floresta Atlântica de encosta e pela diversidade de espécies. A Reserva foi criada pela Lei Estadual nº 3.075, de 09/08/76.

A separação e o encontro dos dois montes

Mestre Álvaro e Mochuara ( Moxuara) estão frente a frente, contemplando um ao outro e assim ficarão por toda a eternidade.

Montanha (Serra) do Mestre Álvaro, na Cidade da Serra, ES, fotografada do Convento da Penha em Vila Velha

Morro do Mochuara, em Cariacica, fotografado da Rodovia BR 101 (Rodovia do Contorno de Vitória). Ambas as fotos são de autoria de Clério José Borges.


O Pássaro de Fogo - Semelhança com a Lenda Russa


Segundo o historiador Clério José Borges, um "Pássaro de fogo" sempre é visto nas noites de São João, (24 de junho), indo do Mestre Álvaro ao Moxuara, abençoando o amor de Guaraci e Jaciara. Prova de que homens e histórias passam, mas corações não morrem jamais. Observem que esta Lenda Capixaba conta a história de um Pássaro de Fogo que colabora na união do jovem casal. Há uma semelhança muito grande com a Lenda Russa do Pássaro de Fogo, imortalizada pelo grande Maestro Igor Stravinsky.




O Pássaro de Fogo


A Música na lenda do Pássaro de Fogo



Pássaro de Fogo é um Balé em três atos, onde magia, amor e liberdade se entrelaçam. A obra é do Músico e Maestro Igor Stravinsky (1882-1971), baseada numa Lenda Russa.

Igor Stravinsky

IGOR é um compositor norte-americano nascido na Rússia e um dos maiores inovadores musicais do século XX. Alcançou fama internacional com a música que fez para os Ballets Russes de Diaghilev, começando com o balé O Pássaro de Fogo. A partitura áspera e discordante de A Sagração da Primavera causou um tumulto quando foi executada a primeira vez em Paris. Obras posteriores incluem Édipo Rei, A Sinfonia dos Salmos e a ópera Carreira do Libertino.








   A lenda do Pássaro de Fogo na Rússia


No jardim do mago Katschei brotavam maçãs de ouro, e lá viviam jovens princesas prisioneiras e enfeitiçadas. O príncipe Ivan entra por acaso no jardim e fica encantado com as maçãs douradas e um lindo pássaro de penas douradas e vermelhas que voava bem próximo às arvores. Temendo ser feito prisioneiro pelo príncipe, o Pássaro de Fogo implora por sua liberdade e em troca presenteia Ivan com uma de suas plumas, que tem o poder mágico de protegê-lo contra os encantos do mago.

O príncipe permanece no jardim e ao anoitecer vê as lindas prisioneiras que à noite saem do castelo para passearem; a mais bonita de todas se aproxima de Ivan, conta sua história e pede que vá embora, pois o mago transforma em pedra quem aparece em seu jardim encantado.

O príncipe finge que vai embora, mas a segue, pois tinha se apaixonado por ela. Começa a amanhecer e Ivan se torna prisioneiro de Katschei. Quando vai ser enfeitiçado, se recorda da pluma que o Pássaro de Fogo tinha lhe dado, e agita-a na frente do rosto do mago. Surge então o pássaro que obriga Katschei e seus amigos a dançarem até a exaustão; enquanto isto ordena a Ivan que procure um grande ovo, onde está trancado o grande segredo do mago: sua imortalidade. Ivan acha o ovo e quebra-o. No mesmo instante, o mago morre e as jovens princesas ficam livres para sempre. Ivan encontra o seu amor e o Pássaro de Fogo desaparece entre as árvores.

   A Lenda Capixaba do Pássaro de Fogo


Em tempos bem antigos, por volta de 1556, quando os Temiminós que vieram do Rio de Janeiro se instalaram no Espírito Santo, conta-se que dois jovens de tribos rivais se conheceram e antes que soubessem de suas origens e da rivalidade que existia em suas tribos, nasceu entre eles um amor tão forte e belo como o Sol e a Lua.

Ela, Jaciara, uma lindíssima princesa indígena, filha do poderoso cacique que ocupava uma imensa terra, onde hoje encontramos o atual município de Cariacica.

Índia Jaciara (Tribo dos Botocudos) Imagem Ilustrativa
Ele, Guaraci, um forte guerreiro da tribo dos Temiminós, que ocupava as terras hoje conhecida como município da Serra.




Índio Guaraci (Tribo Temiminó) Imagem Ilustrativa


Quando esse amor chegou ao conhecimento das tribos, aumentou a rivalidade e a fúria dos caciques contra esse amor, que era incontrolável. O cacique indígena, pai da princesa, jamais aceitaria o enlace da sua querida filha, com o inimigo de seu povo, mesmo sabendo quanto era valioso o dote do noivo e da sinceridade da jura de seu amor.

Em conseqüência criou-se uma barreira intransponível entre as terras das duas tribos e os jovens não podiam de maneira alguma chegar próximo dessa divisa.

Mas o amor, quando sincero e forte, é algo que ultrapassa qualquer barreira e sempre encontra um aliado. Foi o que aconteceu. Os apaixonados conseguiram a ajuda de uma ave misteriosa, o Pássaro de Fogo, (Observe a semelhança com a Lenda Russa), que em horas determinadas, levava o casal a pequenos montes em pontos de fronteira de suas tribos, onde ambos se viam. Então a índia cantava juras de amor ao seu escolhido e ele retribuía da mesma maneira com cantigas que tocavam seus corações.

Continuaram assim, nesse amor poético e passando o tempo, combinaram uma fuga. Quando chegou ao conhecimento do cacique indígena a fuga romântica de sua filha foi o bastante para reunirem todos os sábios conselheiros da tribo e um feiticeiro, que transformou os apaixonados em pedra nos referidos locais onde se avistavam. Estes se elevaram e constituíram dois belos e lendários montes, muito importantes no litoral capixaba, que conhecemos como: MOCHUARA, (ou MUXUARA) a princesa, em Cariacica, e o MESTRE ÁLVARO, o príncipe, na Serra.





Porém, uma fada compadecida de um destino tão cruel, concedeu uma trégua aos enamorados, na rigidez de suas posições e assim uma vez ao ano, na noite de São João, os jovens recuperam de forma invisível, sua forma humana e primitiva, ocasião em que fazem juras de fidelidade e presenteiam-se com ricas jóias e outros mimos, sempre com a ajuda da ave amiga, o Pássaro de fogo, ave mensageira entre os apaixonados. Levando de um para o outro as juras de amor e os presentes, que atestam a sinceridade infinita.

Assim, conta a história, conta a Lenda, que na noite de São João, o Pássaro de Fogo, passa no céu, e vai do MOXUARA, em Cariacica, ao MESTRE ÁLVARO, na Serra e vice versa. E continuam a VIAGEM DO FOGO, descrevendo no espaço, a ETERNIDADE DO AMOR. Observe aqui que a Lenda fala em fogo na noite de São João e o interessante é que a festa de São João é a festa de Agni, do fogo, a festa que comemora o solstício do verão.

Gostaram da Lenda Capixaba amigos? Incrivelmente bela não é verdade? E mesmo tendo pontos semelhantes com a lenda russa, a capixaba é infinitamente mais poética e natural, uma vez que  dois jovens índios enamorados se transformam nas duas maiores montanhas do litoral capixabense, tendo o pássaro de fogo como o mais fiel dos mensageiros, atestando a sinceridade e a cumplicidade no amor do casal. No dia 24 de junho próximo,  ficarei de olho nos céus da cidade,  em busca do pássaro de fogo e revivendo o encontro do jovem casal apaixonado...


Considerações sobre a trilha sonora do vídeo:

⭐️ A trilha sonora do vídeo inicia com a canção indígena Kêne Keranê de  Shaneihu Yuanawa que é um músico acreano do povo Yawanawá que vem conquistando fãs no Brasil e no mundo com sua música.

⭐️ Shaneihu é filho do Cacique Biraci Brasil Nixiwaka, da T.I Rio Gregório. O jovem entende o compromisso com seu povo e acredita que os artistas indígenas têm muito a mostrar por meio das artes, também incentivando outros povos a valorizar sua cultura.

⭐️  O canto  indígena traz uma mensagem de esperança e paz para o coração das pessoas e introduziu a  canção Pássaro de Fogo da Paula Fernandes.

⭐️ "Pássaro de Fogo" é uma canção gravada pela cantora  e compositora mineira Paula como primeiro single do seu álbum de mesmo nome (2009). É uma linda canção romântica que embala o amor impossível entre dois jovens índios apaixonados e que se transformam em montanhas de pedra, condenados a viverem separados para sempre. Apenas com a ajuda do Pássaro de Fogo esse encontro é possível, uma única vez ao ano, na noite de São João!

⭐️ Aproveite e se inscreva no meu Canal https://youtube.com/c/AdrianaHelena   

⭐️ Linda semana a todos! 

Inspiração:  https://www.clerioborges.com.br/passarodefogo.html 
Imagens do Google com edição de Adriana Helena

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5 coment�rios

  1. Esta Minha Querida Amiga é Fantástica e incansável - achei que era uma edição fora do dia BU@ rsrsrsrs BJKS Amiga Querida

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    Respostas
    1. Rui, boa noite amigo!!! Fico muito feliz que tenha vindo aqui conhecer o novo blog!
      Ainda estou iniciando ele, é um bebê capixaba, mas em breve publicarei mais encantos desta terra capixaba, só por aqui!!
      Tenha uma semana maravilhosamente liiinda amigo!!!

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