A Lenda Capixaba do Frade e da Freira e seu amor impossível...

by - maio 03, 2021


Entre os municípios sulinos de Itapemirim, Rio Novo e Cachoeiro de Itapemirim, a mão do Senhor chantou um dos mais notáveis monumentos da natureza — O Frade e a Freira. São dois imensos rochedos de centenas de metros de altura, encimando verdejante montanha. Despida de vegetação, a relva vai beijar o sopé dos colossos. Jamais a natureza se esmerou tanto em requinte. Ela esculpiu, no granito, dois religiosos, perfeitos em seus mínimos detalhes.

     (Adelpho Monjardim)


Em torno de platônico amor entre dois religiosos, criou-se delicada e poética lenda. Ali, em épocas remotas, viveram um frade e uma freira. Impossibilitados de se unirem, fiéis aos votos que professaram, Deus, por piedade, converteu-os em dois blocos de granito para que assim se eternizasse aquele santo e puro amor.

Dois consagrados poetas capixabas, Benjamim Silva e Paulo de Freitas, este da Academia Espírito santense de Letras, inspirados na lenda enriqueceram a poesia brasileira com dois sonetos que se tornaram clássicos.

Assim Benjamim Silva sentiu e exteriorizou a lenda:


O Frade e a Freira


Na atitude piedosa de quem reza

E como que num hábito embuçado,

Pôs, naquele recanto, a Natureza,

A figura de um frade recurvado.



E, sob um negro manto de tristeza,

Vê-se uma freira tímida, a seu lado,

Que vive ali rezando, com certeza,

Uma oração de amor e de pecado.

Diz a lenda — uma lenda que espalharam,

Que aqui, dentre os antigos habitantes,

Houve um frade e uma freira que se amaram.



Mas, que Deus os perdoou, lá no infinito

E eternizou o amor dos dois amantes

Nessas duas montanhas de granito.




Não menos inspirado, Paulo Freitas cantou-a com lírica ternura:


O Frade e a Freira


Tendo nas mãos estrelas cintilantes,

as contas cintilantes de um rosário,

aqueles dois rochedos tão distantes

parece que estão lendo um breviário.



Alguns dizem que Deus os fez amantes

nestas florestas do Brasil lendário,

e, na prece, nos divinos instantes,

ei-los juntos, no mesmo santuário.


O Frade faz lembrar imenso grito

do silêncio perdido no infinito,

eterna queixa formulando a alguém.


Dizem que a Freira, quando a noite vem,

sorrindo, escuta a queixa dos amores

e as pedras trocam beijos entre flores.

Ilustração por: Danielle Pioli ART



Monumento Natural o Frade e a Freira


A pedra do Frade e da Freira é uma formação rochosa com 683 metros de altura, localizada na divisa dos municípios de Cachoeiro de Itapemirim e Rio Novo do Sul, próximo a BR 101, na região sul do estado do Espírito Santo.

 Ela é composta por montanhas geminadas que aparentemente formam as figuras de duas pessoas colocadas frente a frente como se estivessem conversando ou simplesmente se encarando, mostrando um quadro de tamanha beleza que se tornou motivo de cartões postais levados por turistas e pelos próprios capixabas, como recordação daquela paisagem bucólica e encantadora. 

Sobre a mesma criou-se uma lenda que vem de tempos antigos, ninguém sabe precisar quando, que nos conta a história de um frade que se apaixonou pela freira que com ele trabalhava na cristianização dos índios da região, e acabou sendo correspondido no amor que tomara de assalto o seu coração. 

Diz essa narrativa que Deus condoeu-se do sofrimento que martirizava esses seus dois servidores, e decidiu eternizar a paixão que os atraía um ao outro, transformando-os em pedra.

 Cachoeiro tem os melhores ângulos para contemplar o monumento natural que tanto embeleza aquela região.

Ao escrever sobre sua terra natal (cujo nome significa água encachoeirada, leito acidentado pelo excesso de pedras, formando torrentes espumosas) o cachoeirense Evandro Moreira esclarece que:

seus primeiros desbravadores foram os frades jesuítas, que pesquisavam ouro nas Minas do Castelo, desde 1625, tendo ali construído uma capela e a Aldeia dos Montes. O caminho não era ainda o rio Itapemirim. Demandava-se as Minas a partir do rio Doce ou, provindo de Minas Gerais, pela região do rio Manhuaçu, por onde chegou Pedro Bueno Cacunda, em 1705 e que é considerado o primeiro bandeirante dos "cachoeiros".

Por essa explanação se fica sabendo que há quase quatrocentos anos os frades andavam pela região sulina do Espírito Santo em busca de almas e ouro, o que fortalece a veracidade da lenda que muitos e muitos anos depois, em 1938, adquiriu foro de verdade nos versos de Benjamim Silva (1886-1954), natural de Castelo, então ainda pertencendo a Cachoeiro de Itapemirim, que figura em várias antologias de poetas nacionais com o soneto “O Frade e a Freira”, um dos mais conhecidos da poesia espírito-santense, acima mencionado.


Monumento Natural O Frade e a Freira



Mas como na vida tudo tem um porém, o escritor José Augusto Carvalho, mineiro de Governador Valadares, mestre em Lingüística pela UNICAMP, e doutor em Língua Portuguesa pela USP, revela em artigo de sua autoria que dois autores espírito-santenses haviam se insurgido contra essa lenda. Em 1968, diz ele, foi a vez de Maria Stella de Novaes, que em seu livro “Lendas Capixabas”, alega que as freiras só chegaram ao Espírito Santo no início do século 20, enfatizando, ainda, que “uma lenda não pode incidir num anacronismo, nem discrepar a história”. 

Anos depois (2004), foi a vez de Rodrigo Campaneli publicar “As Mais Belas Lendas Capixabas”, no qual, com esse mesmo argumento ele reconta a história centenária mudando-lhe o título para “O Frade e a Índia”, ou seja, por obra e arte dele, desaparece a freira cheia de amores, dando lugar a uma indiazinha não menos romântica.

Discordâncias à parte, o fato é que em fins do ano passado o governo do Espírito Santo, através de decreto, deu ao monumento natural “O Frade e a Freira” a condição de marco representativo do Estado, reconhecendo que sua considerável beleza cênica lhe confere um grande potencial para o turismo sustentável regional, integrado às condições naturais dos ecossistemas e das paisagens, podendo promover novas opções de renda para as comunidades residentes na Unidade e em seu entorno.

Quanto aos protagonistas dessa história de amor e mistério, continuarão sendo cantados em prosa e verso pelos tempos à fora, não obstante as opiniões em contrário. 

E  para solidificar essa lenda capixaba incrível editei um vídeo com imagens naturais do monumento que fará a Anunciação desta linda história de amor impossível...Até a próxima amigos!



Inspiração e Fontes do Trabalho
Fonte: O Espírito Santo na História, na Lenda e no Folclore, 1983
Autor: Adelpho Poli Monjardim
Imagens do Google Imagens 
Vídeo Anunciação do Canal de Adriana Helena no YouTube

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2 coment�rios

  1. Que linda lenda e tão belo o monumento natural...Parece mesmo!Adorei ! beijos, lindo dia! chica

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    1. Chica, muito obrigada querida!!
      Parece que ontem ao escrever sobre essa lenda eu queria tocar o céu...
      E nesta manhã, ao ver notícias tão tristes, tantas perdas , ficamos ainda mais emocionadas...
      Grata pela presença querida!
      Beijos e continua se cuidando muito!! :))))

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